O stress não está só na nossa cabeça.
Está literalmente no nosso corpo, e controlado por um “software” biológico que não está atualizado para o mundo moderno.
Quando sentimos que estamos sempre em modo acelerado, com o corpo tenso e sem conseguir desligar… o problema pode não estar na nossa agenda, mas no sistema nervoso autónomo.
Vamos perceber como o stress pode estar a sabotar a nossa energia, foco e descanso, e o que podes começar a fazer hoje para reiniciar o sistema nervoso.
Para isso vamos ver:
O papel do sistema nervoso autónomo e
Aprender a ler os sinais que o nosso corpo envia e o que podes começar a fazer hoje para reiniciar o sistema nervoso.
Porque “Não se pode domar o que não se vê”.
Sem consciência sobre o que se passa no nosso corpo, todos os truques, técnicas ou aplicações de meditação tornar-se-ão superficiais.
O sistema nervoso autónomo
Vamos simplificar o que o sistema nervoso autónomo nos diz sobre o stress:
Imagina que tens um carro com dois pedais: acelerador e travão.
O teu corpo também tem esses dois sistemas: são ramos do sistema nervoso autónomo.
Ele controla tudo o que acontece “em piloto automático”: batimentos cardíacos, respiração, digestão, etc.
Quando estás ativo ou sob stress, o “acelerador” entra em ação: é o ramo simpático.
Quando relaxas, o “travão” entra em cena: o ramo parassimpático ventral.
E em situações extremas o nosso corpo puxa o “travão de mão” mesmo em andamento… este é o ramo parassimpático dorsal, o nosso modo de proteção máximo que nos faz desligar.

Mas aqui está o senão:
Este sistema foi criado para reagir a ameaças de vida ou morte como fugir de um leão. Hoje, o teu “leão” é um e-mail às 11 da noite, reuniões sem fim, prazos, preocupações…
E o corpo reage da mesma forma. Como nunca chega “o fim da fuga ao leão”, fica-se preso num ciclo que esgota o sistema. É como ter o carro sempre em aceleração… até o motor gripar.
O papel do sistema nervoso autónomo
1. O acelerador – simpático (Luta/Fuga)
O ramo simpático, do sistema nervoso autónomo, prepara-te para ação:
Liberta adrenalina, Acelera o coração, Desvia sangue para os músculos, Suspende funções não urgentes como a digestão
Quando percebes que o teu corpo está em “modo combate”, podes aprender a desacelerar antes de bater no limite.
2. O colapso – parassimpático dorsal (Congelamento/Desligamento)
Quando o sistema é demasiado sobrecarregado ou por muito tempo, o corpo entra em modo de proteção máxima.
Cansaço extremo, Falta de motivação, Sensação de estar “desligado” ou em piloto automático. É como um interruptor que desarma para evitar queimar os fusíveis.
Se reconheces este estado, não é preguiça: é o corpo a pedir socorro. Saber isto muda tudo na forma como te tratas.
Como ler os sinais de stress (prática de auto-observação)
Começa de forma simples com uma prática de auto-observação:
A Respiração: está curta ou profunda?
O Corpo: tenso ou relaxado?
Onde? Maxilar, ombros, estômago – estão contraídos?
Tornar-te um “detetive do teu próprio sistema nervoso” dá-te o poder de agir antes de o stress te dominar.
Como ler e interpretar os sinais do corpo
1. A chave: consciência interoceptiva
A capacidade de sentir o que está a acontecer dentro do corpo chama-se interocepção.
É como ativar o teu “radar interno”.
Mas quando estamos demasiado focados no exterior (tarefas, e-mails, reuniões)** perdemos esta ligação ao corpo.
Treinar a leitura corporal devolve-te autonomia: percebes o stress antes que ele escale.
2. Respiração: o indicador principal
A respiração muda de forma automática quando o corpo percebe ameaça.
Dica prática: Pára 10 segundos agora e observa onde a tua respiração se move:
Só no peito?, Também na barriga?, Rápida ou suave?
Este é um termómetro instantâneo do teu estado.
Sinais a observar:
Se a Respiração é curta e no peito, o Corpo está em alerta (modo luta/fuga) e a solução é parar 1 min e prolongar a expiração.
Quando a Respiração está presa ou suspensa, o Corpo está congelado (modo desligamento): é sinal de perigo e a solução é parar e repousar por algum tempo.

A Respiração está profunda e abdominal? Então o corpo está em Estado de segurança e equilíbrio. E a solução é reconhecer os sinais e tentar prolongar este estado ao longo do dia.
3. Tensão muscular – o corpo a falar sem palavras
Tensão é sinal de que o corpo se está a preparar para agir, mesmo que não haja perigo real.
As áreas mais comuns que deves observar são:
Maxilar (ranger, morder, fechar com força), Ombros (elevados, encolhidos), Estômago (nó ou aperto), Pés e mãos (cerrados, inquietos).
Uma Dica prática:
Faz um scan corporal simples: fecha os olhos por 5 segundos e pergunta:
“Há tensão aqui?” Não julgues. Só observa.
Depois aproveita para aliviar as tensões que encontraste com alongamento e auto-massagem.
4. Micro-sinais emocionais que vêm do corpo
Às vezes, as emoções aparecem primeiro no corpo, antes de serem identificadas pela mente.
Alguns exemplos comuns são:
Tontura leve que significa excesso de ativação. Faz uma pausa para micro -ecuperação
Palpitações são descarga simpática (adrenalina). A solução pode passar por gastar essa adrenalina de forma consciente, como caminhar durante 5 min ou dar um murro no ar.
Se sentes a Pele fria é possível que signifique que está a entrar no modo “desligamento” dorsal. Este é sinal de perigo: pára e repousa por algum tempo. Se os sintomas persistem pede auxílio a alguém.
E Bocejar ou suspirar que são sinais do início de regulação. Deixa que ocorram (se for possível), são sinais de recuperação
Ler o corpo é como aprender uma nova língua: a linguagem do teu sistema nervoso.
Quando sabes:
O que o teu corpo está a sentir
Que estado fisiológico estás a habitar
E que sinais são os teus “avisos internos”
… ganhas poder real de mudança.
Não és a tua ansiedade.
Não és o teu stress.
És um corpo com um sistema nervoso que pode ser treinado, cuidado e reequilibrado.

